quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Educomunicação

A Educomunicação é algo novo para os grupos envolvidos no processo de ensino aprendizagem, a ausência da discussão desta nova realidade é uma falha vital e que contribui para justificar o contexto caótico da educação brasileira.
Neste texto buscarei discutir as conseqüências práticas e teóricas da relação entre Comunicação, Educação e Cibercultura na formação da sociedade, principalmente professores e alunos. Tais análises e conclusões são meras percepções enquanto aluno do curso de extensão e aperfeiçoamento na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Comunicação, Educação e Cibercultura: novos horizontes da formação humana na sociedade digital. Ministrado pela professora mestre e doutorando Michelle Prazeres Cunha.
Há uma naturalização de que o uso de tecnologia nas escolas é sempre positivo. Os sujeitos envolvidos por estarem imersos a sociedade digital, formada pela força legitimada da mídia, acabam por aceitar naturalmente o uso das Tecnologias da Informação (TIs) no processo de ensino aprendizagem sem uma discussão crítica previa para dimensionar o que tem de positivo e negativo na prática. Definimos mídia como; TV, rádio, jornal, internet e como TIs; computador, projetor, lousa digital, televisão e rádio.
Infelizmente, atualmente a escola, assim como outras instituições formadoras vem perdendo sua legitimidade, parte da sociedade não valoriza na prática a escola tradicional. Isso fica evidente, por exemplo, nas estruturas destruídas que apresentam nossas escolas e para onde se direcionam boa parte dos gastos públicos com educação. Sem dizer da delicada relação professor/aluno, professor/pais e “alunos”/pais que se configura na atualidade. Inclusive a família é outra instituição formadora que perde legitimidade, ou seja, filhos que não vêem nos pais exemplos a serem seguidos, ou até seguem reproduzindo famílias cada vez mais desestruturadas. A formação humana é muito complexa, pois as pessoas estão imersas a várias matrizes culturas para sua formação: escola, família, religião, grupo de amigos, mídia, etc. Nestas circunstâncias vemos algumas ganham poder e outras perdendo o que implica diretamente na formação da nossa sociedade.
Os alunos estão vivenciando a modernidade eminente, sendo que a velocidade das transformações sociais e culturais promove contextos diversos para eles tomarem duas decisões. Imersos a tal situação é fácil entender o posicionamento dos alunos valorizando a mídia em detrimento das outras instituições, pois esta é lúdica e moderna. Para que o indivíduo faça suas escolhas em meio às vivências cotidianas será importante o reconhecimento, significação e o retorno que a matriz cultural a qual ele esta se relacionando responde aos seus posicionamentos. Na modernidade tudo muda rapidamente, o conhecimento traz a confiança, que no atual contexto só vem pela criticidade, enquanto o desconhecimento traz incerteza, onde os alunos tendo um senso prático vão estabelecer quase sempre relações de reprodução da mídia e o reflexo desta atuação está evidente nas escolas.
A maioria das vezes os alunos não estabelecem uma relação agradável com a escola, pois esta não lhe da um retorno a altura de suas expectativas. Portanto, ele prefere outras matrizes sócio culturais para se relacionar. Como mudar esta situação? Os agentes envolvidos neste processo, que são muitos, têm que discutir para definir claramente suas intenções, e o “contrato” estabelecido ser cumprido com perdas aos que se desviarem. Afinal, assim se da um processo democrático e prático.
A Cibercultura entendida como a contribuição que a mídia traz na formação educacional da sociedade vem mergulhando nas escolas sem a discussão teórica necessária para a compreensão e atuação dos agentes envolvidos no processo de ensino aprendizagem. Assim, professores e alunos mesmo tendo acesso as TIs não sabem fazer o uso adequado destas, pois não foram formados, capacitados e orientados pedagogicamente falando. Assim, as TIs viram propaganda política para os “astutos”, sistema de controle para os professores e lan house para os alunos.
A velocidade das transformações do mundo moderno é uma violência simbólica, já que o acesso as modernidades que prometem o enquadramento no mercado de trabalho podem estar nas escolas, enquanto no âmbito doméstico não e a miséria social continua. Assim o discurso da inclusão digital cai por terra. O mundo do trabalho caminha em desencontro com o emprego, a Terceira Revolução Industrial promove o desemprego à medida que se utiliza cada vez mais da tecnologia. Em tal contexto a educação esta equivocada em formar tecnicamente sem criticidade, a formação tem que ser humana e política para que os sujeitos aprendam a usar tecnologia para o bem social e não acúmulo de capital. Perversamente, a Cibercultura torna-se um regime transpolítico (formação sócio-cultural pela mídia) invisível montado sobre uma sociedade de excluídos.
Concluindo, o uso das TIs requer mais responsabilidade, professores e alunos têm que ser ouvidos para qualquer mudança da política educacional, enquanto isto não ocorrer o caos permanecerá. Diante da velocidade da modernidade, os agentes educacionais necessitam ser capacitados e orientados ou as tecnologias perdem o sentido dentro das salas de aula. O discurso da tecnologia positiva tem que ser criticado, para que se definam as práticas educacionais construtivas socialmente.
Na formulação da política educacional brasileira sempre há a participação de políticos e grandes empresas, sendo simplesmente excluídos os principais atores do cenário educacional, alunos e professores. A educação quer dar conta de tudo: meio ambiente, educação sexual, criticidade para mídia, mercado de trabalho, formação técnica, inclusão digital e na prática não está conseguindo nada. Podemos apontar o currículo, a política, a formação, a socialização como um conjunto de problemas, porém para a solução o regime Republicano e democrático escolhe poucos para discutir e assim não resolve nada.
A escola tem que ser uma academia produtiva de conhecimento, local onde a sociedade encontre soluções para os problemas da modernidade, a tecnologia é muito bem vinda, mas não com este fim, economicista. O mercado de trabalho não absorve todo mundo, o fim não é tornar toda sociedade brasileira apta para o trabalho com a tecnologia, mas tornar a tecnologia útil no trabalho humano, social, solidário e igualitário.

  

2 comentários:

  1. Muito bem colocado o seu posicionamento.
    Por isso digo que somos privilegiados em participar da formação UCA, pois estamos tendo a oportunidade de aprender a trabalhar essas novas tecnologias de forma que venham otimizar nossa prática docente.
    Não basta dominarmos, operarmos as TICs,precisamos saber articulá-las com o conteúdo,precisamos antever ações significativas de aprendizagem .
    Parabéns pelo artigo!

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  2. De fato integrar o uso das tecnologias ao currículo escolar é um grande desafio, principalmente, a partir da compreensão de que as mídias exercem influência na formação do ser humano. Partindo desse princípio, dialogando com Ulisses, vejo também que é necessário educar com o uso das mídias dentro de um ambiente escolar legitimando as matizes e estabelecendo um diálogo em que os atores participam de um processo de construção significativo para a qualidade de vida. Diante desse quadro a escola deve evocar sobre si o papel mediador pelos seus pares na formação dos educandos, zelando pela capacitação em serviço. Aprender e ensinar através das tecnologias da informação e da comunicação exige um planejamento adequado às expectativas de oferecer uma educação regeneradora.

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